V ENCONTRO DA IGREJA CATÓLICA NA AMAZÔNIA LEGAL – CAMINHOS DA EVANGELIZAÇÃO E COMPROMISSOS

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Igreja que se fez carne, alarga sua tenda na Amazônia:
Memória e Esperança.

O Verbo se fez carne e habitou entre nós. E nós vimosa sua glória…” (Jo 1,14)

1. Reunidos em Manaus, de 19 a 22 de agosto de 2024, nós, bispos, presbíteros, religiosos e religiosas, cristãos leigos e leigas, representando os regionais da CNBB que compõem a Amazônia Brasileira, na dinâmica sinodal que marca a história de nossas Igrejas Locais, nos encontramos pela quinta vez como Igreja Católica na Amazônia Legal para reafirmarmos a caminhada que nossos antecessores começaram de modo colegial e, hoje, somos nós que prosseguimos como peregrinos da esperança. Este encontro, articulado pela Comissão Episcopal Especial para a Amazônia (CEA) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), contou com a presença do Secretário Geral da CNBB e a participação de irmãos e irmãs da Rede Eclesial Pan Amazônica (REPAM) e da Conferência Eclesial da Amazônia(CEAMA).

2. A memória da caminhada sinodal da Igreja na Amazônia nos iluminou e nos impulsionou. Sem esta perene consciência do agir de Deus, que nos precede, e da atuação dos primeiros evangelizadores, perderíamos a capacidade de uma fé histórica, encarnada, e do comprometimento profético diante dos desafios de hoje. Desde 1972, em Santarém, os pastores de nossas Igrejas nos convidaram a uma conversão ao Verbo Encarnado que exigiu da Igreja um total entrosamento com a realidade, um armar a sua tenda. Este armar a tenda manifestou-se como um irrenunciável anúncio central da boa nova: anunciar aos povos o Evangelho de Jesus Cristo e de seu Reino como fonte de sentido e de libertação. Anúncio do núcleo do querigma: Jesus Cristo morto e ressuscitado, “caminho, verdade e vida” (Jo 14,6) para todo homem e mulher. Mas também, armou sua tenda no meio do povo de tal modo que apareceu um rosto eclesial bem amazônico. (cf. Santarém, 2022, n. 5-6).

3. Nesses dias, na docilidade ao Espírito que sempre fala às Igrejas, principalmente pelos empobrecidos, nos deixamos interpelar pelos apelos que emergem da difícil realidade em que vivem os nossos povos, marcada por alegrias e esperanças. Essa escuta que nos educa cada vez mais a viver o caminho sinodal, se fez também pela acolhida dos avanços e desafios trazidos pelas Igrejas locais em seus processos evangelizadores, enriquecida pela ressonância dos participantes nas sessões de trabalho.

4. O Encontro dos 50 anos de Santarém, em 2022, acolheu de modo criativo e programático as indicações do Sínodo da Amazônia, onde os sonhos do Papa Francisco foram assumidos por meio de linhas prioritárias para os nossos dias. Essas mesmas linhas foram, agora, retomadas como caminhos de encarnação na realidade e evangelização libertadora. Notadamente, estas duas grandes diretrizes apontadas em Santarém (1972) são de uma atualidade incontestável, e aqui foram reassumidas com o maior compromisso e profundidade que os tempos de hoje exigem (cf. Santarém, 2022, n.4)

Caminhos de Evangelização

5. Compromissos assumidos no V Encontro da Igreja Católica na Amazônia – 2024. 

Caminhos da formação

a. Criar uma Comissão Inter-regional para acompanhamento da formação presbiteral.

b. Articular Encontro de Formadores das Casas de Formação da Amazônia.

c. Continuar o diálogo entre as Faculdades Católicas e Institutos de Formação Presbiteral.

d. Promover o intercâmbio entre Escolas e Experiências de Formação do Laicato.

e. Assumir o Nortão de Catequese (IVC) em Castanhal, em 2025.

Caminhos da ministerialidade

a. Instituir Ministérios de Lideranças eclesiais.

b. Elaborar Instrumento de Reflexão sobre a Ministerialidade para a Amazônia.

Caminhos de participação das mulheres

a. Aprofundar a reflexão sobre o Ministério do Diaconato às Mulheres.

b. Conferir Ministérios de Leitorato, Acolitato e Catequistas às mulheres.

c. Garantir a participação das mulheres em instâncias de decisão e nas equipes de
formação presbiteral.

Caminhos do cuidado com a casa comum

a. Criar a Pastoral da Ecologia Integral.

b. Assumir as propostas da Comissão da COP 30 (Conferência das Nações Unidas
sobre as Mudanças Climáticas de 2025).

c. Celebrar o Jubileu da Terra durante a COP 30.

d. Instituir o Ministério do Cuidado da Casa Comum.

Caminhos da corresponsabilidade e sustentabilidade

a. Criar o Comitê de Captação de Recursos.

b. Fomentar a partilha entre Igrejas Locais.

c. Retomar a ajudada Caridade do Papa.

d. Favorecer a Formação para a gestão eclesial.

Caminhos da caridade e profecia

a. Criar a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, Justiça e Paz.

b. Favorecer a formação de agentes para participação nos Conselhos Paritários.

c. Apoiar os povos indígenas nas lutas pelos seus territórios e culturas.

d. Acolher, Promover, acompanhar e integrar os Migrantes.

6. Sentimos a necessidade de ferramentas que nos permitam um acompanhamento
sistemático de nossa ação evangelizadora por meio de planejamento participado,
estratégias de atuação e avaliação de processos. Meios que nos ajudem a bem ler
os sinais dos tempos, que nos abram a novos horizontes e que nos permitam
identificar a presença do Reino: “O Reino de Deus está no meio de vós” (Lc 17,21).

O que o Espírito está dizendo às Igrejas

7. O Espírito está nos dizendo que não podemos mais pensar apenas em novos temas a serem tratados pela Igreja, mas, sim, num novo jeito de ser Igreja, em pequenas comunidades inseridas no chão da Amazônia, que evangelizam pelo testemunho, pelo serviço e pelo anúncio do Evangelho.

8. O Espírito nos pede para desencadearmos processos, mais do que multiplicar eventos, repensando com urgência a transmissão da fé às novas gerações, de modo a acolher, ouvir, acompanhar e discernir. 

9. O Espírito nos conduz a um pastoreio de maior abertura. A Amazônia não precisa de pastores indiferentes ao seu povo, que andam longe do rebanho, indiferentes às suas dores e aos seus sofrimentos, mas homens e mulheres sensíveis e comprometidos capazes de dar a vida até o fim. 

10. O Espírito sustenta nossa identidade de Igreja que está junto do povo e luta com o povo por seus direitos. Ele exige de nós coragem para que não nos deixemos intimidar e não compactuemos com o sistema opressor, que só visa o lucro e o bem-estar individual.

11. O Espírito nos leva a uma adesão livre e madura de fé para o discipulado missionário que encarna na vida e nos valores do Evangelho. 

12. O Espírito continua animando a vida das comunidades por meio de mulheres fortes, generosas, missionárias, exercendo a diaconia na animação e coordenação dessas comunidades. Sentimos o forte apelo para que a ministerialidade que é exercida de fato tenha reconhecimento oficial.  

13. O Espírito nos abre à necessidade de inculturação litúrgica para os povos da Amazônia. Uma forma de celebrara fé, acolhendo a riqueza das diferentes culturas presentes em nosso território, nos compromete na construção do Rito Amazônico como forma de reconhecimento dessa diversidade.

14. O Espírito que paira sobre as águas e que sopra onde quer nos envolve na grande rede de cuidado com a Casa Comum, na defesa da vida dos povos e, sobretudo, dos pobres da terra e das águas, dos migrantes, os mais atingidos com as mudanças climáticas. Somos interpelados a uma resposta corajosa e profética por ocasião da COP 30, lançando um grito em favor da terra e dos povos.

15. O Espírito que falou primeiro aos nossos antepassados, avôs e avós dos nossos povos originários, lança seus gemidos pela vida e territórios ameaçados diante da falácia do marco temporal e nos une como ir- mãos e irmãs, habitantes desta grande Amazônia, para resistir e denunciar essa realidade de morte: “Vós sois todos irmãos e irmãs”! (cf Mt 23,8)

A esperança não confunde (Rm,5,5)

16. De esperança em esperança, nossos povos caminham. A eles, nos somamos!

17. “Podem roubar-nos tudo, menos a esperança” (Dom Pedro Casaldáliga). Nesta hora da história, o nosso coração às vezes se angustia por causa de tantas dificuldades que nos desafiam, aparentemente insuperáveis. No entanto, continuamos a ser chamados e enviados como missionários e profetas para alimentar a esperança, como âncora firme e segura de um mundo novo inaugurado por Jesus Cristo Crucificado e Ressuscitado. Em nome d’Ele, clamamos uma trégua que permita o chão da Amazônia descansar: basta de tanta agressão à terra, aos povos, à natureza! 

18. A esperança nos impulsiona a alargar a nossa tenda e os nossos horizontes. As interpelações que brotam incessantemente desse chão amazônico nos colocam em comunhão com a realidade de toda terra. Nossa disponibilidade de resposta aos desafios locais nos faz dispostos, também, aos desafios que ecoam nos lugares mais distantes: da Igreja Local aos confins do mundo! 

19. Ao concluirmos esse encontro, na memória de Nossa Senhora Rainha, somos iluminados pela força do Evangelho que gera em nós a alegria do chamado e nos fortalece para assumir respostas ousadas e sem medo. Rogamos à Maria, Nossa Senhora Rainha da Amazônia, peregrina da esperança, que nos acompanhe nesse caminhar em favor da vida na Amazônia, na esperança da aurora da ‘terra sem males’ e na certeza do “Reino da verdade e da vida, Reino da santidade e da graça, Reino da justiça, do amor e da paz.”(Prefácio Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo).

 

Manaus, 22 de agosto de 2024
Memória da Virgem Maria Rainha

Membros da CEA – CNBB

Dom Gilberto Pastana de Oliveira
Cardeal Leonardo Ulrich Steiner
Dom Irineu Roman
Dom Pedro Brito Guimarães
Dom Vital Chitolina
Dom Benedito Araújo
Dom Orlando Brandes
Ir. Maria Irene Lopes dos Santos

Lista de siglas

CEA – Comissão Episcopal Especial para a Amazônia
CEAMA – Conferência Eclesial da Amazônia
CNBB – Conferência Nocional dos Bispos do Brasil
REPAM – Rede Eclesial Pan-Amazônica

Sites

CEA – Comissão Episcopal Especial para a Amazônia
www.comissaoepiscopalamazonia.org
CEAMA – Conferência Eclesial da Amazônia
www.ceama.org
CNBB – Conferência Nocional dos Bispos do Brasil
www.cnbb.org.br
REPAM – Rede Eclesial Pan-Amazônica
www.repam.org.br

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