O desmanche do altar

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Após a ordenação presbiteral do Pe. Osmar Ferreira na Paróquia Cristo Salvador – Município de Cerejeiras, continuei a viagem com destino às aldeias; indo diretamente para o município de Costa Marques, de onde sair no dia 22 de julho pela manhã, acompanhado  do Pe. Jorge Dorado, numa voadeira (motor 40 – 5 horas de viagem)para a aldeia de Ricardo Franco.

Dia 23 partir logo cedo, de rabeta, rumo ao distrito de Surpresa, acompanhado de ir. Izabel Pastore (Irmãzinha da Imaculada Conceição) e o casal indígena: Adailton Canoe Oronao e Milena Canoe com os filhos Rafael e Alessandra. Passei um dia na aldeia de Sagarana e visitei também a aldeia Winain Tain.

No distrito de surpresa, celebrei a santa missa na residência do Sr. André Pereira Guassase, e coincidiu ser o dia do “desmanche do altar”, momento  de encerramento da festa   de Nossa Senhora do Carmo que é celebrado a 50 anos, uma tradição que passa de pais para filhos.

Geralmente o encerramento das festas religiosas é marcado por um ritual de abertura que recebe nome, ritualização e simbolismo específico e diferenciado de acordo com a festa celebrada e a região geográfica.

Para à abertura, uns chamam de alvorada, toque de abertura, levantamento, busca etc; para o termino da festa: derrubada, fechamento, queimação, despedida e outros.

Na festa de N. S. do Carmo de Surpresa, o encerramento é denominado de “desmancha do altar”, que consiste na chamada dos juízes e juízas previamente sorteados, que fazem uso da fala de despedida, entrega e recebimento como festeiros, depois apoiam no peito os dois maiores símbolos da festa: a imagem de N. S. do Carmo e a Bíblia, sempre acompanhados de uma vela acesa.

Enquanto se posicionam, é invocado o canto “já cumprir minha promessa”, aos cuidados do sr. João Gomes acompanhado do filho Welligton Gomes que dedilham  as cordas do violão com a maestria de autodidatas; quando inicia o canto acompanhado da queima de foguetes, todos os participantes entoam num só coro: “já cumprir minha promessa, na maior da devoção, desejo de meu bom Jesus, pedindo a ele a sua proteção, volto agora vou pra casa, transformado de alegria, pra voltar no outro ano, pra rezar nesta romaria…”.

Com muitos fogos e ao ritmo do canto, faz-se uma pequena procissão transladando os símbolos, inclusive o altar, para um cantinho reservado da residência. Ali os juízes amaram o laço de fechamento da festa que deverá ser aberto somente no próximo festejo. Aos pés do altar desmanchado, velas queimam, muitos se recolham em oração e em seguida uma confraternização a base de doces e bebidas típicas, em seguida os juízes começam o envolvimento de todos para a dança do fim da festa.

 

Dom Benedito Araújo

Bispo de Guajará Mirim

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