Comunidades Quilombolas na Diocese de Guajará Mirim: Importância Referencia e Conquistas

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Guajará Mirim, 27 de Dezembro de 2018

 

A historia das comunidades quilombolas está intimamente ligadas a historia do Brasil quando, no começo da sua estruturação econômica seguiu a opção pelo processo escravagista que levou ao cativeiro primeiramente os povos indígenas e posteriormente os povos africanos. O mais trágico em tudo isso é “a novidade perversa implementada nas Américas e no continente africano, que reverte à forma clássica e medieval da escravidão, está no fato de que o escravo é despossuído da sua humanidade. Ou seja, mais do que propriedade do “senhor”, o escravo não é dotado de natureza humana – ou possui de modo inferior, próximo à animalidade ” (Cf. Estudos da CNBB  105 nº 14).  Na historiografia brasileira nos seus períodos históricos da colônia, império e republica é marcada pela escravidão; e uma das formas  originais  de reação e organização típica da parte dos negros foram os agrupamentos quilombolas.

Os quilombos eram espaços de liberdade onde negros, índios e brancos pobres, juntos gestavam, sonhavam o amanhã do Brasil, motivando assim  a troca de experiências religiosas diferenciadas que caracterizavam a  religiosidade popular brasileira. Por isso é importante considerar a resistência das comunidades quilombolas, a riqueza dos valores que elas vivenciam e nos transmite e a vivencia indenitária cultural  e aberta ao diálogo com as outras culturas.

No Estado de Rondônia, a maioria das comunidades quilombolas estão concentradas na jurisdição territorial da  Diocese de Guajará Mirim. Entre elas destaco: Pedras Negras, Seu Jesus, Forte Príncipe da Beira, Santo Antônio, Santa Fé etc. São comunidades quilombolas formadas por escravos fugitivos e procedentes de outros quilombos, de outros estados, que chegaram e se instalaram nas margens do Vale do Guaporé e firmes e resistentes ainda hoje são incansáveis na luta pelos seus direitos, principalmente o direito da titularização da terra.

A devoção- religiosa tipicamente quilombola, e também a maior festa da Diocese de Guajará Mirim é a tradicional Festa do Divino Espirito Santo sob os cuidados da Irmandade do Divino Espirito Santo; esta festa teve sua   comemoração centenária em 1994.

Em dezembro de 2018 a Comunidade Quilombola de Santa Fé no Município de Costa Marques, vivenciou um tempo memorável! Finalmente depois de um processo longo e doloroso receberam o titulo definitivo de suas terras, 1.452 Hectares. Trata-se de uma comunidade quilombola de 41 famílias localizada na margem direita do Rio Guaporé, na divisa do Brasil e da Bolívia, próxima ao município de Costa Marques, à 713 km de Porto Velho.

A Comunidade quase desapareceu em 1987 quando um fazendeiro  a área, obrigando a vender as posses, expulsando os resistentes com pistoleiros e queimando as casas. Porém conseguiram corajosa defesa dos irmãos dom Geraldo Verdier – saudosa memoria – Bispo  da Diocese de  Guajará Mirim e Pe Paulo Verdier, Pároco de Costa Marques, que sofreram ameaças de morte. Mas com o apoio da comunidade e dos defensores da causa conseguiram recuperar parte do seu território tradicional, retornando ao mesmo as famílias com possibilidade de reconstruírem  suas casas.

Os quilombolas nas suas comunidades tem uma identidade conquistada,  não podemos esquecer que nossa “aproximação desta cultura rica e diversa na perspectiva evangelizadora é uma tarefa urgente. Compreende os princípios do cuidado diante das situações de vulnerabilidade social; do diálogo frente a uma forma de vida diferenciada, compromisso evangélico, pois o anuncio do Reino é o horizonte último” (Idem 183. D).

 

+ Benedito Araújo

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