Sínodo para a Amazônia

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Guajará Mirim, 20/01/2019

 

O anúncio do Papa Francisco, no dia 15 de outubro de 2017, convocava para a  Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos, tendo como objetivo a urgente reflexão  sobre o tema: “Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral” se realizará de 06 a 26 de outubro de 2019 em Roma. Segundo o documento preparatório (DP) – instrumento de trabalho,  “esses novos caminhos de evangelização devem ser elaborados para e com o povo de Deus que habita nessa região: habitantes de comunidades e zonas rurais, de cidades e grandes metrópoles, ribeirinhos, migrantes e deslocados e, especialmente, para e com os povos indígenas” (DP 02).

Territorialmente, “a bacia amazônica representa para nosso planeta uma das maiores reservas de biodiversidades (30% e 50% da flora e fauna do mundo), de água doce (20% da água doce não congelada de todo planeta), e possui mais de um terço das florestas primárias do planeta. Também a captação do carbono pela Amazônia é significativa, embora os oceanos sejam os maiores captadores de carbono. São mais de sete milhões e meio de quilômetros quadrados, com nove países que fazem parte deste grande bioma que é a Amazônia” (idem 07).

Os países que integram a Pan-Amazônia são: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela, incluindo a Guiana Francesa como território ultramar. Neles registra-se aproximadamente três milhões de indígenas, com média de 390 povos de nacionalidades diferentes.

A Igreja tem uma memória histórica no enfrentamento destas realidades, porém “lamentavelmente, ainda hoje existem restos do projeto colonizador que criou manifestações de inferiorização e demonização das culturas indígenas. Tais resquícios debilitam as estruturas sociais indígenas e permitem o desprezo de seus saberes intelectuais e de seus meios de expressão. O que assusta é que até hoje, 500 anos depois da conquista e depois de mais ou menos 400 anos de missão e evangelização organizada, e depois de 200 anos da independência dos países que configuram a Pan-Amazônia, processos semelhantes continuam se alastrando sobre o território e seus habitantes, hoje vitimas de um novo colonialismo feroz com mascara de progresso” (idem 24).

Dai a preocupação do Papa Francisco quando se encontrou com os indígenas em Puerto Maldonado – Perú e afirmou: “provavelmente, nunca os povos originários amazônicos estiveram tão ameaçados nos seus territórios com o estão agora” e veementemente incisivo tocou no âmago da questão: “a Amazônia é uma terra disputada em várias frentes”.

E ainda pediu que se transformasse o paradigma histórico em que os Estados veem a Amazônia como despensa de recursos naturais, “sem ter em conta os seus habitantes (…) as relações harmoniosas entre o Deus Criador, os seres humanos e a natureza estão quebradas por causa dos efeitos nocivos do neoextrativismo e por pressão dos grandes interesses econômicos que exploram o petróleo, o gás, a madeira, o ouro, e pela construção de obras de infraestrutura (por exemplo: mega-projetos hidrelétricos, eixos viários, como rodoviárias interoceânicas) e pelas monoculturas agroindustriais”.

A Assembleia Especial para a Região Pan-Amazônica fez um precioso trabalho de escuta reciproca, através de rodas de conversa envolvendo o povo de Deus, grupos específicos, autoridades do magistério da Igreja e outros.

Entre tantas inquietações que exigem aprofundamentos e respostas concretas estar o lamento de milhares de comunidades privadas da Eucaristia dominical por longos períodos (Cf. DAp 100e).

Frente os grandes desafios pastorais, sociais e econômicos, “a Igreja é chamada a aprofundar sua identidade em correspondência às realidade de seu próprio território e a crescer em sua espiritualidade escutando a sabedoria de seus povos. Por isso, a Assembleia Especial para a Região Pan-Amazônica é chamada a encontrar novos caminhos para fazer crescer o rosto amazônico da Igreja e também para responder às situações de injustiça da região, como o neocolonialismo configurado pelas indústrias extrativistas, pelos projetos de infraestrutura que destroem sua biodiversidade e pela imposição de modelos culturais e econômicos estranhos à vida dos povos” (Dp 66).

Esses novos caminhos para a pastoral da Amazônia exigem “relançar com fidelidade e audácia sua missão” (DAp 11) no território e “aprofundar o processo de enculturação” (EG 126). Os novos caminhos exigem que a Igreja na Amazônia faça propostas “valentes”, que devam ter “ousadia” e “não ter medo”, como nos pede o Papa Francisco.

O perfil profético da Igreja, hoje, mostra-se através de seu perfil ministerial e participativo, capaz de fazer dos povos indígenas e das comunidades amazônicas “os principais interlocutores” (LS 146) em todos os assuntos pastorais e socioambientais no território.

No Regional Noroeste que compreende as arqui – dioceses de: Porto Velho, Guajará Mirim, Huamitá, Ji – Paraná, Cruzeiro do Sul, Rio Branco e a Prelazia de Lábrea. O instrumento de trabalho foi bem aproveitado e aprofundado; as contribuições enviadas pelas mesmas foram sistematizadas e repassadas para a CNBB – Conferencia Nacional do Bispos do Brasil, que através da Comissão Episcopal para a Amazônia e da REPAM – Rede Eclesial Pan – Amazônica encaminham oficialmente as contribuições para a secretaria geral do Sínodo.

 

 

+ Benedito  Araújo

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