Homilia – Ordenação Diaconal
Seminaristas: Adriano Cleberson e Claudinei de Lira
Catedral N. S. do Seringueiro – 07/07/2021 – 19hs30
At. 6, 1-7;Sl 99; Mc. 10, 32-45
Caríssimos Irmãos e Irmãs, reunidos nesta Catedral dedicada a N. S. do Seringueiro, e os que celebram conosco, através da Rádio Educadora e dos meios digitais.
Elevo a minha e nossa gratidão a Deus pela alegria do nosso reencontro nesta celebração eucarística. Saúdo a todos que aqui chegaram, das paróquias da nossa diocese de Guajará e também das paróquias da Arquidiocese de Porto Velho.
Quantos gostariam de estar presencialmente conosco neste momento, mais ainda estamos vivenciando um tempo marcado por tanta perplexidade; logo todo cuidado é fundamental no enfrentamento desta pandemia.
Com os grandes desafios deste tempo pandêmico, aprendemos nos reinventar na metodologia evangelizadora, na proximidade e na comunhão, sobretudo recuperando o verdadeiro espirito de Igreja domestica.
Uma da experiência mais impactantes do confinamento foi assistir ao esvaziar-se das nossas cidades, escolas, Igrejas, comunidades e ruas. Um estranho e desconhecido silencio nos assustou, um vazio começou perpassar as nossas vidas, nossas organizações, nossas agendas, nossos ministérios e serviços.
Quem não se lembra do Papa Francisco no vazio da imensidão da praça S. Pedro ao anoitecer da sexta-feira Santa de 2020.
Ele mesmo afirmou: “Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados, mas ao mesmo tempo importante e necessário: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento…”.
Este tempo de prova, continua exigindo de todos nós uma autentica revitalização da missão, como filhos e filhas batizados e convocados a exercer a diacônia marcada pela proximidade e compaixão.
Além dos textos bíblicos escolhidos para esta celebração. O seminarista Adriano se inspirou em Mc 10,45 – “Eu vim para servir”. Enquanto o seminarista Claudinei optou pelo Sl 100,2 – “Servir ao Senhor com alegria”.
Considero oportuno partilhar com eles, seus familiares a quem saúdo com muito carinho, e com todos que aqui estão sobre esta dimensão da vida cristã: servir com alegria.
O serviço pode assumir formas muito variadas de cuidar dos outros, portanto nos torna responsáveis pelo cuidado da fragilidade dos outros.
Recordo a carta do Papa Francisco sobre a “Fraternidade e à amizade social- Fratelli Tutti – onde ele torna presente que quem não vive a gratuidade do serviço fraterno, transforma a sua existência num comercio cheio de ansiedade: está sempre a medir aquilo que dá e o que recebe em troca. Em contrapartida, Deus dá de graça, chegando ao ponto de ajudar mesmo os que não são fieis e «fazer com que o Sol se levante sobre os bons e os maus» (Mt 5,45). (FT 140).
Servir “significa cuidar dos frágeis das nossas famílias, da nossa sociedade, do nosso povo». Nesta tarefa, cada um é capaz «de pôr de lado as suas exigências, expectativas, desejos de omnipotência, à vista concreta dos mais frágeis (…). O serviço fixa sempre o rosto do irmão, toca a sua carne, sente a sua proximidade e, em alguns casos, até “padece” com ela e procura a promoção do irmão. Por isso, o serviço nunca é ideológico, dado que não servimos ideias, mas pessoas» (FT 115).
Na vida, seja eclesial ou social todo crescimento e organização não estar imune de problemas e conflitos. As dificuldades internas e externas, as perplexidades, desânimos e desilusões são espinhos na carne de seus membros.
O grande risco é a perda do foco, a perda da razão de ser. E essa é realidade das comunidades de Jerusalém, as comunidades cresciam e corriam o risco de esquecer os descartados do seu tempo, do seu entorno, aqui representados pelas viúvas.
Creio que esse cenário seja também a realidade da Igreja hoje, a realidade de tantas comunidades, de tantas vocações.
Hoje é muito comum, se tornou até moda, dissociar a fé da prática de justiça e muitos tem a ousadia de se auto afirmar super-cristão militando numa pratica sensacionalista, proselitista calcada na busca e invenção religiosa tradicional que é uma traição da verdadeira Tradição e da história.
Mais o sagrado apelo da Palavra de Deus é para que saibamos discernir que paixão pela Palavra no discernimento vocacional cristão supõe ter os mesmos sentimentos e compaixão de Jesus de Nazaré.
Como afirmou o nosso saudoso Dom Pedro Casaldáliga: “Em caso de duvida, opte pelos mais pobres”.
Na literatura bíblica, na biografia dos Santos/as, o serviço é a marca, de toda a consagração da vida.
Todos nós precisamos ser servidores/as, precisamos viver em comunidade não a partir de cima, da superioridade, do poder, do protagonismo interesseiro, mas sim a partir da disponibilidade, do serviço e da ajuda aos outros.
Nosso exemplo é Jesus, ele fez do serviço ao próximo o resumo da sua vida!
A triste pretensão dos filhos de Zebedeu, não considera o itinerário vocacional do compromisso doloroso a caminho de Jerusalém. O sonho ambicioso torna a cena do Evangelho escandalosa, triste e vexatória.
A ambição, a busca de interesse sempre deixa sequelas danosas e vergonhosas na sociedade e pior ainda na comunidade cristã criando divisões, apreensões, insegurança e até descrédito da Igreja.
Quem assim se comporta pela imaturidade da fé, não se torna grande, mas insignificante, acaba reduzindo a missão num contra testemunho da vida.
Beber o cálice é fazer triunfar a compaixão, á vida, a verdade e a justiça, diante das amargas situações de morte que todos os dias e em todos os cantos nos deparamos.
Que a Palavra de Deus alimente em nós a inquietude para bem-servir, que a vocação do Adriano e Claudinei e também a vocação de todos nós seja de fiel compromisso com a vida em abundancia.