CARTA DO 18º ENCONTRO NACIONAL DE PRESBÍTEROS AOS PRESBITÉRIOS DE TODO BRASIL!

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“Vós sois todos irmãos” (Mt 23, 8).

 

Como irmãos em Cristo, nós – 532 presbíteros, 11 bispos e 15 convidados representantes de nossas 274 (Arqui) Dioceses presentes no Brasil – nos reunimos na Casa da Mãe Aparecida, Casa da Palavra, nos dias 09 a 14 de maio de 2022, para rezar, conviver, refletir e experimentar a alegria de ser presbíteros/discípulos do Senhor, em comunhão e missão. Nosso encontro foi assessorado pelo Pe. Dr. Rosimar José de Lima Dias e por Dom Joel Portella Amado, secretário geral da CNBB.

1- Sacerdotes reunidos no Encontro Nacional

Neste 18º Encontro Nacional de Presbíteros, refletimos sobre o Tema: “Presbíteros: Comunhão e Missão”. Apareceram palavras como: eclesiologia de comunhão, sinodalidade, igreja particular, presbitério, espiritualidade, santidade, evangelização, testemunho, cuidado e anúncio do Reino. Nossas reflexões tornaram presente o momento de crise da pandemia do Coronavírus SARS-CoV-2, COVID-19, com desafios que afetam os âmbitos da política, economia, meios de comunicação, vida social, moral e ética. Notou-se que há uma certa descrença da parte do povo brasileiro nas ciências,
lideranças e instituições. Constatamos que muitos presbíteros, bispos, familiares e paroquianos morreram afetados pelo coronavírus e rezamos por eles. Tocados pelo processo do Sínodo dos Bispos de 2023, reafirmamos nossa fidelidade ao Magistério da Igreja na pessoa do Papa Francisco, na teologia bíblico-patrística, na eclesiologia do Concílio Vaticano II, na Teologia da Conferência Geral do Episcopado Latino Americano e Caribenho e nas orientações doutrinais e pastorais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, para vencermos o personalismo, o clericalismo e o isolamento pelo cultivo da comunhão, participação e missão. Alegrou-nos muito, em nosso 18º ENP, a visita e mensagem de Dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidente da CNBB; de Dom Jaime Spengler, 1º vice-presidente da CNBB; do Núncio Apostólico no Brasil Dom Giambattista Diquattro, e dos Cardeais Dom Hector Miguel Cabrejos Vidarte O.F.M., presidente do CELAM; e de Dom Odilo Pedro Scherer, 1º vice-presidente do CELAM; no mês no qual celebramos 15 anos da Conferência de Aparecida, realizada de 13 a 31 de maio de 2007.

2 – Identificar a realidade

No princípio do 3º milênio, a Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, reunida em Aparecida – SP, destacou que a crise de mudança de época afeta todos os setores da vida e ao atingir a cultura alcança seu grau máximo. Nesse ambiente da hiper-pós-modernidade, os presbíteros são desafiados por demandas a que são expostos e que vão além da capacidade de responder dentro de uma rotina saudável de trabalho, como a mutação religiosa, fanatismo e relativismo. A alta rotina nas atividades pastorais, celebrações, reuniões, estudo, formação e demais atividades podem levar a um desgaste físico, mental e espiritual identificadas como Síndrome de Burnout. Equilibrar ministério e vida é um desafio constante para todos os presbíteros para desempenhar bem a missão e viver bem. A falta de cuidado pode levar ao desgaste emocional que pode eclodir em conflitos com autoridades, presbitério e comunidade. Nesse contexto, cultivamos a consciência da presença recessiva da Igreja em tudo como fermento na massa, para superar a desorganização, evitando a improvisação, a falta de planejamento e a instabilidade emocional. Sugere-se que se cultive a estabilidade, com ordem, rotina, resiliência, lazer, folga semanal, férias anuais, participação em cursos de atualização e retiros de espiritualidade. Como presbíteros/discípulos de Jesus Cristo não improvisamos nosso agir. A Palavra e o Magistério capacitam a ler, interpretar e viver na realidade o estilo de vida fundamentado no exemplo deixado por Jesus. Dom Joel nos lembra que no mundo secular “apesar dos desafios, há também, muito de bondade, caridade, solidariedade, profetismo e esperanças”.

3 – Iluminar com a Palavra e o Magistério

A Palavra de Deus é viva (Hb 4, 12), Nela e com Ela, o discípulo/presbítero recolhe sempre novidades (Mt 15, 32), ou seja, luzes para uma vida que se mostra repleta de sombras. O convite de Jesus “vinde!” pode ser compreendido no encontro pessoal com o Senhor, em sua pessoa e mensagem. Jesus chamou e inseriu em seu grupo alguns, que pela lógica da época, nunca seriam chamados (Lc 5, 24-26). Os discípulos quando amedrontados escutam o Mestre dizendo: “a paz esteja convosco” (Jo 20, 19); diante das dificuldades para compreenderem a realidade do vivido, Jesus disse: “recebam o Espírito Santo” (Jo 20, 22); para vencer tentações e forças demoníacas, Jesus recomenda “fé e oração” (Mc 9, 29); quando sentem-se pecadores Jesus entra na casa e coloca-se à mesa (Lc 5, 29); Jesus interrompe seu caminhar para ouvir um grito sufocado pela indiferença (Mc 10, 46-52). Os presbíteros ouvem o “vinde!” para, com suas vidas, palavras e ações, se tornarem proclamadores do chamado que Jesus Cristo lhes fez. Recomenda-lhes pedir ao Senhor da messe operários diante das multidões desassistidas (Mt 9, 37); e a missão consiste em proclamar a misericórdia de Deus e chamar as ovelhas cansadas e abatidas ao descanso no redil. Deus nos santifica para que esse processo da comunhão mais radical seja experimentado e praticado. Jesus continua a chamar, pois Ele quer ter gente consigo para instaurar o Reino de Deus, que se manifesta na comunhão vivida no presbitério, na igreja local, com o bispo (LG, n. 28). A oração diante do Sacrário é tempo especial para cultivar a comunhão com o Pai, no Espírito (Lc 22, 39-41) e transborda para toda a criação que se transforma em graça que fecunda o ministério e a vida do presbítero. O Papa Francisco ensina: “a criação só se pode conceber como um dom que vem das mãos abertas do Pai de todos, como uma realidade iluminada pelo amor que nos chama a uma comunhão universal” (LS, n. 76). E quanto à comunhão também diz: “assim acontecia na comunidade santa formada por Jesus, Maria e José, onde se refletiu de forma paradigmática a beleza da comunhão trinitária. E o mesmo sucedia na vida comunitária que Jesus transcorreu com os seus discípulos e o povo simples” (GeE. n. 143).

4 – Comunhão e Missão

Tendo mergulhado na Palavra de Deus e se reafirmado como servo do Senhor que chama, o presbítero é convidado também a olhar a vida. Assim como Jesus olhou para o Pai (Mt 11, 25-26) e olhou também para a vida (Mt 11, 27-28), o presbítero é chamado a permanecer com esse duplo olhar, aprendendo diariamente com o Cristo Senhor, sob a força do Espírito, a estabelecer essa integração irrenunciável. O presbítero olha a Palavra para poder olhar a vida com os olhos e o coração de Cristo. O presbítero olha a vida para poder apresentar a Jesus as alegrias e dores das pessoas e dos povos. Nessa dinâmica o presbítero fortalecido consegue repetir o “vinde!” de Jesus, ainda que, dentro ou diante de si, se manifestem sombras, dores e inseguranças (Dom Joel, n. 14). Apresentam-se aos presbíteros modelos de mediações para cumprir sua missão, alguns inspirados em modelos pré-conciliares, outros mergulhados na defesa dos pobres e marginalizados e os mais jovens que se descobrem imersos em uma mistura oscilante entre as mediações pré-conciliares e às que espelham a mobilidade de referências, com a pressão do consumo. E aqui a pergunta central poderia ser: quais são as melhores mediações para atualmente responder ao “vinde!”? Cabe a cada presbítero encontrar, na articulação entre o Evangelho, sua história pessoal e o ambiente ao qual foi enviado, um conjunto de mediações que lhe permita ser sinal de Cristo que chama, reúne em comunhão e envia a chamar. Deve-se ficar atento diante do perigo de estar munido por mediações anacrônicas ou descontextualizadas. Trata-se do apego a mediações que foram úteis em outros ambientes e tempos; um apego que nos pode levar a desejar que elas se mantenham aplicáveis em nossa época, apesar das mudanças radicais pelas quais estamos passando. Importante saber discernir entre o que é dado da fé daquilo que é mediação. A fé não pode ser abandonada, enquanto algumas mediações podem e devem ser abandonadas.

5 – Espiritualidade encarnada/celebrada que leva à santidade

O mundo secular está envolto por crises de mediações propícias ao fundamentalismo, ao relativismo e à indiferença. O isolamento, leva cada qual a tentar a sobreviver do seu modo. A descoberta do “vinde!” no plural, chamado dirigido a todos, leva à descoberta da mística sinodal, que se cultiva no presbitério. Essa percepção leva à descoberta do significado das palavras de Jesus: “vós sois todos irmãos!” (Mt 23, 8). Os diferentes perfis de presbíteros se conjugam pelo modo de conceber e viver a comunhão e a missão. É Cristo quem chama e envia. Os presbíteros no cumprimento da sua missão são impelidos a agir com “coragem para abandonar as estruturas ultrapassadas que já não favoreçam mais a transmissão da fé” (DAp, n. 365). Os presbíteros no Brasil ouvem a voz de Jesus como chamado-missão dirigido a todos eles: “Como o Pai me enviou, também eu vos envio” (Jo 20,22). O anúncio do Evangelho em um mundo que ergue muros entre países, ruas, cidades, famílias, corações e religiões, frente aos desafios do mundo atual, a eclesiologia de comunhão expressa a capacidade de caminhar juntos, sinodalidade, e revela que a novidade do Evangelho rompe as barreiras, que tendem a se fechar em nós mesmos, em nossas perspectivas, levando ao isolamento, indiferença, diante das exclusões econômicas e sociais. A emersão da figura do presbítero-inquieto diante da falta de cuidado pela Casa Comum, da concentração de riquezas, da exclusão dos pobres, entre outros, não impede que o presbítero sonhe com a força que o Evangelho possui para transformar o mundo em uma casa fraterna e solidária para toda humanidade. Dom Joel questiona: “quem transforma quem? O mundo transforma o Evangelho ou o Evangelho converte o mundo” (n. 37)? A inquietude do presbítero que resulta da escuta do chamado “vinde!” leva para missão, fundamentado na força do testemunho comunitário como presbitério. É esse profetismo, da escuta de Deus que chama e mergulha na Palavra, para anunciá-la ao mundo em seus descompassos. Caminhar juntos fortalece os presbíteros e é fonte de esperança. O Papa Francisco recorda que: “sem perder o realismo, o cristão/presbítero ilumina os outros com um espírito positivo e rico de esperança” (GeE, n. 122) e, em outra passagem refere que: “quando te sentires envelhecido, pela tristeza, ressentimentos, medos, dúvidas ou fracassos, Ele estará ali para te devolver a força e a esperança” (ChV, n. 2) e ainda mais, o Papa Francisco diz profeticamente: “não deixem que lhes roubem a esperança! Não deixem que lhes roubem a esperança! Mas digo também: não roubemos a esperança, pelo contrário, tornemo-nos todos portadores de esperança” (ChV, n. 15). A missão do presbítero, cujo “princípio interior, a virtude que anima e guia a vida espiritual do presbítero, enquanto configurado com Cristo cabeça e pastor, é a caridade pastoral” (PDV, n. 23). Cumprindo sua missão o presbítero caminha na santidade, cujo modelo é a Trindade Santa. Descobrir Deus como mistério de amor, enriquece a espiritualidade de cada presbítero. Deus Pai espera, abraça, cobre de beijos e faz festa; Deus Filho derrama seu sangue e lava de todo pecado; Deus Espírito Santo age comunicando os dons do Pai e do Filho na ação mediada pela Igreja na ação ministerial dos sacerdotes/presbíteros.

6- Enviados em missão!

Aqui, da Casa da Palavra, Casa da Mãe Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, Santuário dos romeiros e peregrinos, nós, presbíteros da Igreja no Brasil, no empenho de ouvir cada vez melhor o chamado do Senhor “vinde!”, somos enviados em missão junto ao rebanho a nós confiado. Maria, Mãe Aparecida, nos ajude! Inspire-nos o testemunho de São João Maria Vianney, nosso patrono. Amém.

Aparecida, SP, 14 de maio de 202

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